14 de dez. de 2008

Até que me provem o contrário...


Tempão que eu não posto aqui. Como sempre, recolhi-me em minha ausência. *risos
Pois bem, estou de férias e inaugurarei o cumprimento de minha promessa de posts semanais com um assunto polêmico: religião ou, se preferirem, religiosidade. Teísmo talvez coubesse melhor aqui. Ateísmo, para ser sincera. Enfim, tentarei fazer aqui um resumão dos fatos sucessivos que me levaram à atual situação: incredulidade completa em qualquer tipo de deus, divindade, ser superior, mistério, etc etc etc. Ateísmo e ponto. Ponto final.
.
.
.
Tudo, como quase sempre, se inicia na infância. Meus primeiros contatos com uma religião - na verdade, já com uma penca de "religiosidades" diferentes - ocorreram logo que me entendi por gente. 1) Catolicismo (minha mãe se dizia católica, mas me levava à missa apenas no Natal e/ou na Páscoa); 2) Cristianismo protestante (uma parte dos meus parentes insistiam em me levar para os cultos jovens); 3) Umbanda (vez em quando minha mãe também me carregava para umas festas no terreiro do lado da nossa antiga casa. O batuque era legal, as fantasias dos tais orixás eram legais também, mas a hora melhor era a hora da comilança. Pois sim, veeeery religious). Conclusão: nunca tive uma orientação firme sobre religiosidade. Só para terem uma noção, até meus sete anos mais ou menos eu acreditava piamente que a "cara" de Papai Noel que minha mãe deixava o ano todo pendurado na parede do corredor era a "cara" de deus - pô, o cara era barbudo, grisalho e tinha aparência de vovô legal...Só podia ser ele o tal do deus que dá tudo o que a gente implora nas orações!
Com dez anos eu entrei na tal da catequese que todo mundo tinha que fazer para poder tomar o sangue e comer o corpo de Jesus. Poxa, eu gostava. De verdade! O padre era muuuito engraçado, sabia como fazer a gente entender o quanto Jesus é bonzinho para criancinha boazinhas (o que ele costumava fazer com as criancinhas não-tão-boazinhas-assim eu já não sei porque o padre nunca tocava nesse assunto. Presumi que iriam para o inferno, coitadas), tinha um monte de brincadeiras e eu até coroei Nossa Senhora vestidinha de anjinha. É, mas eu me mudei. Minha vida deu uma reviravolta tremenda que não convém detalhar aqui. E eu fiquei anos sem pisar numa igreja. Ah, claro, dava para continuar perturbando o tal do deus de vez em quando, sempre que eu lembrava ou que precisava de algo. De fato, eu só me lembrava quando precisava pedir algo. *risos. Com catorze anos eu consegui terminar a tal da catequese por conta própria, tipo, fui na Igreja pertinho dos prédios onde eu estava morando, me informei e comecei por mim mesma. Eu tinha que saber como era o tal ato religioso (e canibal) de comer o corpo de Jesus e tomar seu sangue. Nada mal. Apenas falso. Tãããão falso, desejo enfatizar. Não é o mesmo pedaço de pão sem fermento molhado no vinho que vai limpar a alma de uma reles adolescente que fala palavrão e responde mal à mãe e, ao mesmo tempo, de um assassino, de um estuprador, de um ladrão...Ai ai, "Santa" hipocrisia. E eu pensava comigo mesma: "Nada disso pode estar certo!"
Quinze anos: virei bruxa.
Nada de coven, nada de dogmas, nada de gente opinando na minha fé. Era eu e a suposta Grande Deusa e ponto. Iniciei-me por conta própria. Estudava e aprendia mais e mais a cada dia também por conta própria. Ah sim, para os curiosos eu faço uma revelação: nessa época que eu ganhei o nome Sara Sheeva. Era meu nome dentro da Wicca (sim, eu seguia predominantemente os preceitos da Wicca). Depois que eu usei o nome "Sheeva" na minha primeira personagem de rpg que acabou virando apelido de vez (até minha mãe me chama assim hoje em dia! ¬¬')
Qualquer assunto sobre religião sempre me interessou e me interessa muito. Eu pesquisava muito sobre tudo. Queria conhecer para criticar, mas também para tirar lições sempre que possível. Curiosa que nem gato vira-lata, cheguei até a me aproximar do " lado negro da força", se é que vocês me entendem. Daí eu percebi, amigo, que se a parte boa dessa coisa de existência divina já é duvidosa, que dirá a parte má. Ai ai...
Como algum sábio sábio de verdade falou certa vez, "quem muito procura, acha". E eu achei. Achei em mim a minha profunda incredulidade que sempre esteve presente, mas que eu tinha receio de aceitar. É curioso porque chegou um momento em que eu estava tão obsessiva por crer em algo que fizesse sentido que tudo passou a simplesmente não fazer sentido nenhum. Na verdade, na dessas baboseiras religiosas fazem sentido. Eu queria crer em algo porque todo mundo assim o fazia sem muitas complicações.
Dois grandes problemas: eu não sou muito apta a crer em coisas que não façam sentido. E eu não sou todo mundo.
Não vou perder meu tempo aqui citando os muitos motivos que me levam a crer (estranho usar essa palavra nesse sentido, mas não pude evitar) que a existência de seres ou coisas divinas é muito improvável. De fato, estou certa até de que qualquer um que pare para pensar com um pingo de honestidade verá o mesmo que eu vejo: a triste e dura realidade de que somos animais como todos os outros, que somos a fase evoluída de algo muito parecido com um macaco feioso pensante, e que, infelizmente, morreremos e serviremos de adubo, como o cachorro do vizinho, como a borboleta colorida que está pousada naquela folhinha e como a própria folhinha em si. Morreu já era, meu bem. Alimento de minhoca, adubo para terra - pense positivo: tem gente que acredita que você deveria ficar numa sala escura e fria cheia de gente se lamuriando no seu ouvido, um tal de Purgatório.
Se eu me sinto desamparada, sentindo que a vida não tem sentido e coisa e tal? Cara, fico sim. Frequentemente. Mas fazer o que? Acreditar numa meia dúzia de mentiras que mais fazem piorar o mundo do que melhorar? Não mesmo. Já disse, não sou apta a acreditar em coisas fantasiosas. As fantasias foram feitas para vermos em filmes ou teatros e para lermos em livros (falando nisso, parabéns aos autores das Bíblias cristã e satânica. Literatura de qualidade com muitas lições de vida, principalmente a primeira. Ainda não li o Corão, mas pretendo ainda fazê-lo). Também vivo me perguntar "why? why? why?" para uma série de coisas, mas nada que me obrigue a acreditar no "nada" só para me sentir mais confortável por breves instantes, até que as perguntas sem respostas voltem a me atormentar.
Retomando, o que aconteceu, em suma, foi isso mesmo: olhei para mim mesma e falei, "cara, você tem força suficiente para assumir que não há nada para te acudir. A vida é essa mesma e não adianta contar com nada que não seja advinda de você, do seu eu, ou das relações cativadas com outros iguais a você. O que se tem por certo e justo deve ser feito não porque você almeja um paraíso longínquo, mas porque você é uma pessoa sensata."
Não que eu seja aquele tipo de incrédula militante que quer converter o mundo todo a uma não-fé. Sinceramente, não tenho saco para fanatismos de nenhum tipo, muito menos desse. ADO-A-ADO cada um no seu quadrado. Mas cá entre nós, a fé em algo superior não é demonstração de humildade coisa nenhuma! Não passa de um medo de assumir a pura responsabilidade por seus atos uma vez que esses, na realidade, não estejam subjulgados a nenhum paradigma, mandamento, lei, etc. Como dizia um outro sábio sábio para caramba, "liberdade implica responsabilidade". Ninguém quer responsabilidade. É mais fácil se corroer na culpa ou se privar de certas coisas simplesmente porque "deus não ensinou assim" ou porque "deus castiga". Castiga naaada! Nada acontece porque deus ou seja-lá-o-que-for quer. As coisas acontecem porque a vida é essa (sim, todas essas coisas que você vê ao seu redor, todos seus erros e acertos, todos os erros e acertos dos outros, todo o bem e o mal entrelaçados na subjetividade de cada um e de cada situação).
Concluindo: sou atéia sim, meu amigo, até que me provem ao contrário.
Milênios vêm, milênios vão...e ninguém jamais conseguiu. Por que será?

*OBS: isso ("Por que será?") realmente foi uma pergunta. Quem souber o por quê, favor, deixar via comentário, e-mail ou sinal de fumaça.
.
.
.

Enfim, é isso...Queria ter sido mais sucinta, mas quero um desconto por já ser mais de uma da manhã e por eu ser uma moça proletária que precisa dormir cedo para aguentar o tranco. Prometo depois retomar o assunto e outros vários assuntos que tenho em mente para abordar aqui. Esse tema foi inspirado no post da Mila e nas nossas conversas de portão, onde vira e mexe a gente descobre que nossas neuras são assustadoramente parecidas.

Um comentário:

°°mila°° disse...

Essa é o orgulho da mamãe aqui!
Ficou ótimo baranguilda.
Sério. Coerente, sensato, persuasivo e sincero.
Esse post levou-me do introspectivo ao riso.
bjao muieó