Meus olhos atentos ao movimento do outro lado da vidraça do carro foram surpreendidos. Pegos de supetão. Estava tudo igual, mas havia algo diferente que, por menor que fosse, era notório.
E em meio ao caos costumeiro de todos os dias úteis (sim, porque se o dia é de lazer, ele se torna inútil na nossa sociedade de perfeitos trabalhadores) havia um ponto.
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Uma vez um professor parafraseou um grande pensador contemporâneo das Relações Internacionais quando fez um ponto negro com a caneta no meio da lousa antes imaculadamente branca e definiu esse ponto como a idéia exata do que é a “Violência”. Toda a dimensão restante da lousa continuava inerte em sua brancura, mas a reles presença daquele ponto era suficiente para prender nossa atenção e fazer um contraste incontestável. Um contraste perturbador.
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E Era um ponto minúsculo. Imperceptível para alguns. Para mim, gritante. Idiota. Inútil. Útil. Desprovido de propósito. Proposital. Como a violência da paráfrase mesmo, sabe?!
“Jesus Extra”
Eram esses os dizeres na parte traseira dos trapos de roupa daquele ser.
Era só um cara. Um cara que pensa que é Jesus? Mais um Jesus? Sim, porque se é um Jesus Extra...
Affe...Mais um! – pensei.
Quantos mais personagens de um teatro de máscaras sem pé nem cabeça para fazer as vezes de salvador nesse curral de humanos com pés, mas desprovidos de cabeça?
Se não bastasse a personagem bimilenar daquele livrinho fantasioso...
O cara não tinha rosto. O chapéu de palha estilo espantalho-de-plantação-de-milho-no-Corn-Belt-dos-EUA ocultava a face. Foi-me possível ver a barba à La Jesus de pintura européia. Era jovem. E vestia-se espantalhosamente (espantalho+espalhafatosamente).
Que seja um louco querendo transmitir sua mensagem. Que seja mais um normal sem mensagem.
Ele me distraiu. Por breves segundos. Ele me distraiu. Tirou-me da letargia sufocante de mais uma segunda-feira desprovida de propósito. Para me perturbar, que seja. Mas foi um “quê” de diferença em meio ao mesmo de sempre.
Era apenas mais um dos muitos “extras” que andam brotando por aí. Mas era diferente. Diferente porque conseguiu atrair minha atenção. *ultimamente nada tem conseguido tal façanha.
Do outro lado da vidraça eu ri. Ri da loucura. Ri da normalidade. Sei lá do que eu ri naquela hora. Acho que eu só ri.
Ele sorriu de volta. Um sorriso meio embriagado.
“Deus sorriu pra você” – zombou o motorista, ao mesmo tempo em que metia o pé no acelerador, já que o sinal verde pesava sobre nossas cabeças atrasadas para mais uma segunda-feira. Ele também tinha notado.
“Deus não existe!” – repliquei.
Só foi legal porque foi diferente. E rápido. Talvez não tão digno de atenção...
Acontece que estou farta das coisas iguais, contínuas e demoradas.
Estou farta de um monte de coisas, mas isso é uma "História extra" para um outro post qualquer.
27 de jul. de 2009
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2 comentários:
Mto bom cara!
Que figura cara. Estava escrito Jesus Extra msm? Donde ele tirou isso? Tem que levar este cara pra Jurujuba.
Qdo vc disse que Deus não existe os passageiros não pegaram suas foices e tochas para atacá-la?
Beijão pirua!
Jessica, minha pequeno gafanhoto, adorei seu ensaio sobre o desconcerto da rotina, interessante eh q se deu em face do mistico. vc se formou? te vi de beca?
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